FORMANDO A RODA - II
- Zaga Mattos
- 26 de jun.
- 2 min de leitura
Depois de dar um estalo de língua após sorver o martelinho de cachaça, sem fazer cara feia, Claudionor, o Nonô, se ajeitou na banqueta, esparramou os cotovelos sobre o tampo da longa mesa e ficou preenchendo os volantes da Mega-Sena.
− Sabe que nem sei por que continuo apostando nessa enganação.
Vocês conhecem alguém que já ganhou?
Nonô já foi do jogo. Era do tipo compulsivo. Não tirava a bunda da cadeira de jeito nenhum. As más línguas contam que ele estava num pif-paf brabo no Lyra, lá em Floripa, no tempo em que o clube ficava num terreno à beira de um barranco na Felipe Schmidt. Foi para Florianópolis para conferir se a ilha tinha mesmo 42 praias. E acabou se atracando no jogo. Chuva forte lá fora, com raios e trovoadas. Na sala toda enfumaçada, a turma ferrada no pano. Lá pelas tantas, Nonô, já perdendo até as calças, eles ouviram um barulho. A lâmpada tremeu com o estrondo. Os parceiros levantaram e seguiram a voz de comando:
− Vamos trotear a mula que o barranco tá desmoronando!
Só o Nonô permaneceu sentado e, calmamente, argumentou:
− Que nada! Isso é só reflexo do terremoto que deve estar tendo no Chile!
Era daqueles que queriam ganhar até a mesa de jogo. Nunca con- seguiu. Ficava sempre na filada para ver se aquela era a carta sonhada. Agora ela vem! Hoje, a agenda de Nonô tem pequeno espaço para “inocentes atividades esportivas”. Restaram apenas a fezinha diária no Jogo do Bicho, as loterias da Caixa e o dominó. Mas neste não corria dinheiro: quem perdia, pagava a cerveja.
Agora, era trocar ideias com Quequé, saber se o amigo sonhara com algum bicho à noite ou tivera dica de cocheira para alguma aposta.
Como na vez em que estava num caxetão na casa do Capitão, e o Bicicleta apareceu com uma barbada. Confiou e ganhou.
Capítulo II de Memórias de um Boêmio de Chinelos








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