TUDO É QUESTÃO DE JEITO
- Zaga Mattos
- 15 de mar.
- 2 min de leitura
Zaga Mattos
Pela minha vida de solteiro passaram muitas diaristas. Cada uma com seu estilo e mania. Poderia dizer que a Yonara foi a campeã.... Mas a conclusão poderia ser confundida com a síndrome de tantos times por aí: disparando na frente e despencando no final. Uma espécie de cavalo paraguaio. Lembrando aqui a frase famosa que nos diz que nada melhor para acabar com um turfista do que uma amante argentina e um cavalo paraguaio.
Com o “pedigree” da Yonara passaram também a Lurdeca, a Sandroca, Brigite (devia ter outro nome, mas para mim ela era Brigite devido a sua semelhança com a atriz francesa no verdor de sua vida) e tantas outras que foram de limpar, lavar e passar, mas nenhuma de me “acordar na hora de trabalhar...".
Após a separação conjugal herdei de minha mãe os préstimos da Lurdeca. Tinha a seu favor o conhecimento dos temperos caseiros: até aprendera a fazer quibe! Mas a especialidade era mesmo sonhos recheados com goiabada. Preparava baciada deles quando meus filhos aproveitavam feriadão para passar uns dias comigo. Isso bastou para lhe garantiu a permanência no trabalho. Ah, sim! Ela também tinha bom humor e me trazia as “novidades” colhidas na sua longa viagem do bairro distante até o meu endereço.
Começava o relatório com reclamações do bodum de um ou outro passageiro. Enquanto eu tomava o meu café da manha ela ia desfiando seu rosário de lamúrias contra ônibus, motorista, cobrador, passageiros. Ninguém escapava da língua afiada da Lurdeca.
Quando o ônibus não vinha lotado o alvo eram as conhecidas do horário. Desprezava a ordem alfabética e começava com a Zilda. Carregava nos verbos e adjetivos. Sirigaita era elogio no fino repertório. Colocava a Aparecida lá no meio da lista, como a mostrar que não estava preocupada em honrar ninguém com hierarquia do abecedário. Nas suas observações ia do cabelo escorrido ao pixaim, sem ferir, contudo, as convenções raciais. Esperta, a Lurdeca! Sai de mim, coisa ruim! Eram palavras de ordem no seu dia a dia.
Enquanto isso eu ia tomando meu café e me divertindo com os relatos. Vez ou outra vinham alguns palavrões. Já percebia que no rodar do disco estávamos entrando na faixa das encoxadas (vocábulo preferido dos malandros do pedaço, no registro das interações a bordo). Ainda dentro do tópico mobilidade urbana ameaçava falar que a passagem poderia subir. “Vi qualquer coisa disso no programa do Ratinho”. Era a luz vermelha se acendendo e eu já cortava o papo. Sabia que a caminhada iria desembocar no aumento do salário.
Terminada a louça, Lurdeca ia para a sala. E de lá, vendo taças, com vestígios de vinho, reveladoras de visitas interessante, vinha a frase para não se botar defeito e deixar o caminho aberto para futuras discussões sobre reajuste salarial:
- Meu patrão pode não ter dinheiro, mas tem glamour!








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